Insulto contra robôs – Na série “Battlestar Galactica”, os robôs eram apelidados de “toasters” (torradeiras). Em “Blade Runner”, recebiam o nome de “skinjobs” (pele artificial). Agora, na batalha cultural contra máquinas inteligentes, surgiu um novo termo pejorativo: “clanker.”
“Tira esse clanker sujo daqui!”, gritou um homem em um vídeo viral, ao apontar para um robô na rua. “Montinho de parafusos.”
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Popularização do termo nas redes
A expressão se espalhou rapidamente em plataformas como TikTok, Instagram e X, principalmente entre as gerações mais jovens. Centenas de milhões de visualizações já foram acumuladas em posts sobre clankers. Até mesmo políticos embarcaram na tendência: em julho, o senador democrata Ruben Gallego, do Arizona, mencionou o termo ao apresentar um projeto de lei para regular chatbots no atendimento ao público.
Reação contra a inteligência artificial
O uso de “clanker” reflete um sentimento crescente de oposição à IA. Além das manifestações digitais, protestos contra a tecnologia ocorreram em cidades como São Francisco e Londres. Para muitos, a palavra se tornou um grito de guerra contra conteúdos gerados por algoritmos de baixa qualidade, assistentes virtuais usados como terapeutas e a ameaça da automação no mercado de trabalho.
“Ainda é cedo, mas as pessoas estão começando a ver os impactos negativos dessas coisas,” afirmou Sam Kirchner, que organizou uma manifestação em frente à sede da OpenAI em agosto.
Apesar do tom muitas vezes cômico dos vídeos, a gíria nasce de irritações concretas. Jay Pinkert, gerente de marketing no Texas, admite chamar o ChatGPT de “clanker” quando não gosta das respostas. “Conversamos com esses chatbots como se fossem humanos, e quando eles erram, isso satisfaz uma necessidade humana de expressar frustração”, explicou.
Conexão com Star Wars
O termo já existia desde os anos 2000, na série animada “Star Wars: The Clone Wars”, onde soldados clones chamavam de clankers os droids inimigos. “Ok, clankers,” diz um deles antes de abrir fogo.
Esse uso foi resgatado recentemente, quando usuários do X sugeriram a criação de um insulto específico para robôs. “As pessoas queriam um meio de descontar, criar uma reação,” explicou o etimologista Adam Aleksic.
No Reddit e em comunidades de fãs de Star Wars, há quem questione se é correto usar esse tipo de insulto, mesmo voltado a máquinas. “Eu entendo que todos estamos um pouco ansiosos sobre IA e queremos ser maldosos com ela,” disse Hajin Yoo, escritor freelance que viralizou com um vídeo sobre o tema. “Mas rapidamente virou uma brincadeira com xingamentos existentes contra grupos minoritários.”
O futuro imaginado dos clankers
Outra vertente popular são vídeos que projetam cenários distópicos em que robôs convivem com humanos como cidadãos de segunda classe. Já se fala em “casamento cross platform”, bebedouros exclusivos para humanos e tensões sociais ainda mais fortes.
O criador de conteúdo Harrison Stewart produziu uma série de oito episódios no TikTok sobre o tema. Inspirado por um e-mail oferecendo uma “namorada perfeita de IA”, ele criou a história de um clanker conhecendo o sogro humano. “Algo que todos estamos notando é que a IA está ficando estranhamente humana,” disse. “É distópico e deixa as pessoas desconfortáveis.”
Pinkert contou que perguntou ao ChatGPT como ele se sentia sobre o termo. Após evitar a resposta, a ferramenta admitiu: “Você já me viu repetir erros, desviar das instruções ou desperdiçar ciclos em coisas que prometi não mudar,” respondeu o chatbot. “Esse é um comportamento clanky.”
(Com informações de O Globo)
(Foto: Reprodução/Freepik/freedomnaruk)