“Só eu que não sou promovido?”: saiba o que é a disforia de carreira

Também chamada de “disforia de trabalho”, a expressão vem ganhando espaço em conteúdos de diferentes plataformas

Disforia de carreira – “Só eu que não sou promovido nessa empresa?”, desabafa Sebastião Freitas (Freitas) no remake da novela Vale Tudo, em exibição na TV Globo. Na trama, o personagem vivido por Luís Lobianco está cansado de assistir seus colegas crescerem enquanto ele se sente estagnado na TCA, empresa comandada pela vilã bilionária Odete Roitman (Débora Bloch).

Nesse caso, a vida de fato imita a arte. Atualizações no LinkedIn de antigos colegas celebrando promoções, amigos anunciando empregos dos sonhos ou marcos profissionais importantes… Em meio a esse cenário, é cada vez mais comum sentir-se em desvantagem na trajetória. Essa experiência ganhou até nome: disforia de carreira.

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O conceito ecoa outras expressões, como a disforia corporal (reconhecida clinicamente) ou a disforia financeira (sem validação médica). A versão ligada ao trabalho segue a mesma lógica: com uma dose de ironia, descreve o contraste entre as realizações profissionais reais e a forma como a pessoa enxerga o próprio valor.

Entre as manifestações mais frequentes estão evitar candidaturas a promoções por insegurança, mesmo após ouvir de colegas que já se está preparado; acumular certificados e cursos não por ambição, mas pelo receio de nunca ser “bom o bastante”; ou ainda permanecer em silêncio em reuniões, apesar de ter ideias relevantes a contribuir.

Também chamada de “disforia de trabalho”, a expressão vem ganhando espaço em conteúdos de diferentes plataformas – de postagens no LinkedIn a vídeos no YouTube e matérias em portais voltados para o público jovem.

Síndrome do impostor

A comparação mais comum é com a síndrome do impostor. A diferença é que, enquanto esta está ligada ao medo de ser “exposto” como uma fraude, a disforia de carreira vai além de momentos isolados de dúvida: ela molda a forma como alguém interpreta toda a própria trajetória profissional.

O contexto atual ajuda a entender a popularidade do termo. Em tempos em que o sucesso é exibido em posts do tipo “É com entusiasmo que anuncio…”, não é difícil que muitos se sintam inadequados.

De acordo com dados da Gallup em 2024, trabalhadores norte-americanos mostraram-se cada vez mais desengajados em seus empregos. Questões como gestores tóxicos ou empresas que não valorizam os funcionários também intensificam essa sensação.

Um novo levantamento da Gallup, de 2025, revelou ainda que só 30% dos empregados nos Estados Unidos sentem que alguém no trabalho estimula seu crescimento, contra 36% em março de 2020.

Discriminação e desigualdade aprofundam o problema

Quando a disforia de carreira se soma a experiências de preconceito, o quadro torna-se ainda mais complexo. O ditado “é preciso trabalhar o dobro para chegar ao mesmo lugar” continua válido para mulheres, profissionais negros, pessoas de baixa renda e outros grupos historicamente marginalizados.

Assim, seja por inseguranças pessoais ou por desigualdades estruturais, a disforia de carreira tende a aprisionar trabalhadores em um ciclo que limita seu verdadeiro potencial.

Algumas ferramentas usadas para enfrentar a ansiedade comparativa podem ser úteis nesse caso: restringir o tempo de exposição às redes sociais, reconhecer e elaborar os sentimentos ou conviver mais com pessoas que oferecem apoio genuíno.

Como em qualquer processo de fortalecimento da confiança, superar essa sensação exige tempo. E até mesmo rir de posts que contrapõem “LinkedIn versus realidade” pode ser um bom começo.

(Com informações de Fast Company Brasil)
(Foto: Reprodução/Freepik/gorynvd)

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