Profissionais de TI – Enquanto a maior parte do mercado brasileiro segue valorizando o trabalho autônomo, o setor de tecnologia tem mostrado um movimento na direção oposta. Pesquisas recentes apontam que a maioria dos profissionais de TI deseja migrar para contratos formais, em busca de segurança e benefícios trabalhistas.
Um levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que 67,7% dos trabalhadores autônomos da área gostariam de atuar sob regime CLT. Entre os autônomos com CNPJ, 54,6% demonstraram interesse na mudança; já entre os informais, o índice sobe para 72,1%. A principal motivação é a busca por maior estabilidade, segurança previdenciária e garantias legais.
LEIA: Medo de fraude já fez 93% desistirem de compras online, mostra pesquisa
Para o presidente do Sindpd-SP, Antonio Neto, essa tendência reflete um amadurecimento do setor após o período de incertezas causado pela pandemia. “Muita gente perdeu emprego na pandemia porque as empresas encolheram. E agora que elas começam a recontratar, esse profissional precisa de um pouco mais de segurança. Então, estamos num momento de transição do perfil do trabalhador de TI.”, avalia.
A visão é compartilhada por Jhenyffer Coutinho, sócia da Gupy, que observa uma relação direta com as mudanças trazidas pela inteligência artificial. ‘’É um momento em que esse profissional está vendo a IA entrando com força no mercado, em que algumas profissões estão sendo questionadas quanto à sua continuidade ou não”, explica.
No entanto, dados indicam que, entre julho de 2024 e julho de 2025, houve queda de 15% nas vagas CLT e crescimento de 6% nas posições PJ. Ainda assim, o regime formal segue predominante: foram registradas 116.449 vagas CLT contra apenas 634 PJ.
Fraude trabalhista
A discrepância entre os números também reforça outra realidade: muitas vagas PJ são na verdade uma fraude trabalhista e por conta disso, as empresas não as divulgam de forma totalmente aberta.
Para especialistas, a pejotização pode trazer riscos. Neto lembra que, além de configurar fraude trabalhista, ela gera concorrência desleal entre empresas e pode dificultar até processos de venda de companhias. Por isso, o sindicato tem buscado diálogo com entidades do setor para reforçar a contratação formal.
A experiência da engenheira de software Isabella Oliveira exemplifica o movimento de valorização da CLT. Após iniciar a carreira como PJ, ela optou por migrar para o regime formal. “Na época, eu tinha um MEI, mas não gostei da experiência. Desde então, mesmo que apareçam outras oportunidades PJ, sempre recuso. Até porque, mesmo recebendo um valor mais alto, nunca vi uma proposta que compensasse ao calcular os benefícios”, relata.
Para muitos profissionais iniciantes, no entanto, o cenário ainda é desafiador. Startups e empresas de menor porte tendem a priorizar contratações PJ, o que pode dificultar a construção de carreira.
“Às vezes você quer começar, mas não consegue em uma empresa grande. Já as startups e companhias menores, além de contratarem como PJ, não ajudam a construir carreira, e você acaba entrando nesse limbo”, relatou uma fonte que preferiu não se identificar.
Na avaliação de especialistas, o modelo PJ pode ser interessante para quem já possui reservas financeiras, mas para a maioria o regime CLT segue sendo visto como a escolha mais segura — especialmente em um setor que ainda enfrenta instabilidade e cortes frequentes.
(Com informações de It Forum)
(Foto: Reprodução/It Forum)