Mais de 72 horas. Este é o tempo que cerca de 300 pais estão acampados em frente ao Colégio Estadual Liceu Cuiabano, no centro da Capital, para garantir uma vaga no ensino médio para os filhos. E a espera ainda não acabou. As matrículas têm início apenas amanhã.
As barracas de camping, cadeiras e colchões são colocados na calçada. Não há permissão para entrar na escola, nem para beber água. Para usar o banheiro, os pais precisam pagar R$ 1 numa lanchonete na rua ao lado.
O proprietário do estabelecimento, Douglas Alves, diz que a medida visa evitar tumulto. “Quem consome alguma coisa, usa de graça”, diz.
À noite, a situação é ainda pior. Quem dorme na fila tem que procurar um lugar num terreno baldio em frente ao colégio para fazer as necessidades. “É um absurdo. Tem cachorro morto e mato alto ali”, reclama um dos pais.
Para organizar a fila, senhas são distribuídas. Não basta apenas pegar uma delas, é preciso estar presente no momento da chamada, feita de duas em duas horas.
A ideia partiu de Elizangela da Silva Monteiro, primeira a chegar. Com apenas com uma cadeira de fio, ela está em frente à escola desde sexta-feira à noite. Nem mesmo a chuva de domingo a fez desistir. “Um senhor emprestou esta tenda”, afirma.
O motivo de tanta perseverança é o mesmo da maioria dos outros pais: o Liceu Cuiabano é considerado o melhor colégio público do Estado.
O fato de a escola estar na região central de Cuiabá, também motiva a procura. Outros colégios, como o Presidente Médici e Nilo Póvoas, também no centro da cidade, passam por situação semelhante.
Maria Auxiliadora Rosa Cortez é uma das mães que está na fila devido à localização do Liceu Cuiabano. Ela conta que a filha faz estágio e precisa estudar perto do local de trabalho. “Nós moramos no distrito da Guia. Não tem como ela estudar lá e trabalhar aqui”, diz.
E a fila não é novidade. Aldimanda Paula Souza, 31 anos, ingressou no Liceu Cuiabano em 1992. “Na época minha mãe já enfrentou essa maratona”, conta. Ontem Aldimanda ainda avaliava se entraria na fila para matricular o filho.
Este ano, no entanto, a espera começou mais cedo. Segundo alguns pais, a antecipação ocorreu porque em 2012, mesmo quem enfrentou duas noites dormindo em barracas não conseguiu matricular os filhos.
Por meio da assessoria, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) afirmou que as filas não são necessárias, garantindo haver vagas suficientes para todos os alunos em 2013. Apesar disso, garantiu que vai respeitar a ordem de chegada dos pais nos locais onde houver listas ou senhas já distribuídas.
Mesmo assim, a expectativa de quem está na porta da escola é de tumulto no momento da abertura dos portões. “Sempre tem uns engraçadinhos que tentam passar na frente”, diz uma mãe de aluno.
A direção da Seduc justificou ainda que as escolas permanecerão fechadas até o dia das matrículas porque não há estrutura para acomodar todas as pessoas.
No Liceu Cuiabano serão ofertadas 660 vagas para o ensino médio nos três turnos. Pela organização dos pais, as vagas da manhã já acabaram.