Novo lançador espacial chinês para limpar órbita gera temor de uso militar

Equipamento desenvolvido para remover detritos espaciais pode ser adaptado para neutralizar satélites, dizem especialistas

Lançador espacial – Pesquisadores chineses criaram um lançador compacto projetado para capturar detritos espaciais, mas cuja tecnologia também pode ser aplicada em operações militares. A inovação, descrita no mês passado na revista Acta Aeronautica et Astronautica Sinica, levanta preocupações sobre a intensificação da disputa geopolítica e tecnológica no espaço.

O sistema utiliza propulsão silenciosa por gás fechado para disparar uma cápsula equipada com rede, capaz de envolver e prender objetos em órbita. Ao contrário de armamentos tradicionais, não gera fumaça, clarão ou vibração significativa, garantindo precisão e preservando a estabilidade da espaçonave onde está instalado.

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Detalhes técnicos e design

O projeto foi desenvolvido por engenheiros aeroespaciais de Nanjing, Xangai e Shenyang, sob liderança de Yue Shuai, professor associado da Universidade de Ciência e Tecnologia de Nanjing.

A propulsão ocorre por meio de uma pequena carga de pólvora, que gera gás de alta pressão para movimentar um pistão. Quando a pressão atinge um valor pré-determinado, um ponto de ruptura libera o projétil.

Um anel inclinado a 35 graus absorve parte do recuo, dobrando-se para dentro e reduzindo em mais de 9% a força de impulso em comparação a modelos de 20 graus. O deslocamento do cano é mantido em apenas 3,45 milímetros, e uma tampa selada impede a liberação de gás no ambiente espacial.

Segundo os autores do estudo, o ângulo do anel é crucial para maximizar a absorção de energia e evitar vibrações ou fragmentos que possam danificar equipamentos sensíveis. A missão principal é combater o acúmulo de lixo espacial que ameaçam operações orbitais.

Após o disparo, a cápsula libera uma rede que envolve e ancora o alvo, conduzindo-o para a reentrada atmosférica, onde é destruído. O sistema é compacto, não depende de energia externa e pode ser fabricado em instalações convencionais.

Possível uso militar

Comparado a canhões eletromagnéticos, que exigem fontes de energia potentes e sistemas complexos, o modelo movido a pólvora é mais barato, durável e simples de manter em operação prolongada no espaço.

Embora o estudo não mencione finalidades militares, analistas ouvidos pelo South China Morning Post alertam que a tecnologia poderia ser adaptada para inutilizar satélites de comunicação ou de reconhecimento de outros países.

“Não haveria explosão, nem ataque visível, apenas um satélite que deixaria de responder”, afirmou um cientista espacial em Pequim, sob anonimato.

Esse potencial uso como arma antissatélite discreta desperta questionamentos sobre a interpretação do Tratado do Espaço Exterior de 1967, que proíbe armas nucleares em órbita e prevê o uso pacífico do espaço, mas não veta armamentos convencionais.

Ainda não se sabe se o lançador já está operacional ou segue em fase de desenvolvimento. No perfil acadêmico de Yue, consta a especialização em sistemas de armas espaciais, com menção a “dois payloads já operando em órbita” e planos para novos lançamentos.

(Com informações de Olhar Digital)
(Foto: Reprodução/Freepik/beststudio)

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