Nova era da lavagem de dinheiro: criptomoedas para driblar sanções internacionais

Ativos digitais facilitam transações rápidas, pouco rastreáveis e fora do alcance de regulações financeiras tradicionais

Criptomoedas – A expansão do uso de criptomoedas, especialmente as stablecoins, tem acendido um sinal de alerta entre autoridades e especialistas em diversos países. Antes dependentes de estratégias tradicionais, como o uso de diamantes, obras de arte e ouro para movimentar fortunas ilícitas, redes criminosas agora se beneficiam dos ativos digitais, que oferecem rapidez, eficiência e dificuldade de rastreamento.

Uma investigação recente mostra que esse avanço pode comprometer até mesmo políticas internacionais de segurança e sanções econômicas, já que essas moedas permitem a evasão de controles financeiros estruturados. As informações são do The New York Times.

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Stablecoins, criptomoedas pareadas ao dólar, possibilitam transações quase instantâneas ao redor do mundo, sem a fiscalização exigida em instituições financeiras. A combinação entre facilidade de circulação, conversão e uso de intermediários estrangeiros forma camadas de blindagem que tornam o monitoramento muito mais complexo.

Segundo a empresa de análise Chainalysis, cerca de US$ 25 bilhões em transações ilícitas envolveram stablecoins apenas no último ano, um dado que ilustra o crescimento acelerado da prática. O envolvimento de oligarcas russos, grupos extremistas e redes internacionais de lavagem de dinheiro reforça o impacto global do problema.

Como as criptomoedas contornam sistemas tradicionais

A mudança de cenário ocorre porque as stablecoins conseguem escapar de boa parte das exigências impostas a bancos, operadoras de cartão e outras instituições reguladas. Enquanto o Departamento do Tesouro dos EUA determina que bancos gastem bilhões com programas de conformidade e identificação de clientes, o ecossistema das criptomoedas frequentemente permite contornar esses mecanismos.

O anonimato aumenta com o uso de bots no Telegram, empresas intermediárias em jurisdições diversas e cartões Visa e Mastercard emitidos sem verificação de identidade. Em um teste realizado por um repórter, foi possível converter dinheiro vivo em stablecoins em um caixa eletrônico e, minutos depois, gerar um cartão virtual de pagamento sem informar nome, endereço ou qualquer documento.

Especialistas apontam alguns fatores que tornam esses ativos tão atraentes para criminosos:

– Transferências internacionais rápidas e de baixo rastreamento;
– Possibilidade de misturar fundos em “pools” digitais;
– Uso de intermediários sediados em países com baixa fiscalização;
– Emissão de cartões de pagamento lastreados em stablecoins sem verificação de identidade;
– Operações que passam por empresas sem regulamentação direta.

Este conjunto de elementos permite movimentar milhões de dólares com poucos cliques, reduzindo a eficácia de sanções econômicas e dificultando a ação de autoridades.

Tentativas de regulação enfrentam limites

Governos têm buscado respostas legislativas. Nos Estados Unidos, o GENIUS Act foi apresentado como o primeiro marco regulatório amplo voltado especificamente para stablecoins, estabelecendo regras de estabilidade financeira e programas robustos de conformidade contra crimes e violações de sanções.

A Circle, uma das principais emissoras, elogiou o projeto, afirmando que ele moderniza o combate à lavagem de dinheiro na era digital. Críticos, porém, destacam que a proposta atinge apenas uma parte do mercado, sobretudo empresas sediadas nos EUA. Plataformas offshore, emissores estrangeiros e tokens descentralizados seguem fora do alcance.

O exemplo mais emblemático é a Tether, maior emissora de stablecoins do mundo, sediada em El Salvador e responsável por mais de US$ 180 bilhões em circulação. Como não está sujeita às regras norte-americanas, sua atuação global permanece praticamente intocada.

Investigações internacionais mostram como grupos criminosos se adaptam rapidamente. No Reino Unido, autoridades prenderam integrantes de uma rede bilionária que utilizava stablecoins para driblar sanções e financiar atividades ligadas ao esforço militar russo. Em países como Costa Rica, Malta, Geórgia e Rússia, empresas oferecem cartões anônimos alimentados por criptomoeda, com limites de até US$ 30 mil.

Mesmo quando sanções são aplicadas, ativos digitais podem migrar para novas carteiras antes do congelamento, como ocorreu com um token pareado ao rublo que seguiu circulando apesar das punições impostas pelos EUA e pela União Europeia.

O crescimento do uso de criptomoedas em operações ilícitas evidencia, portanto, um desafio global: regular um sistema financeiro descentralizado, distribuído e em constante transformação, capaz de se reinventar sempre que novas barreiras surgem.

(Com informações de Olhar Digital)
(Foto: Reprodução/Freepik/pvproductions)

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