O relatório trimestral de inflação de dezembro, divulgado ontem pelo Banco Central (BC), faz uma avaliação realista do comportamento da economia, mas excessivamente otimista da trajetória do índice de preços, o que explica a opção pela estratégia de manter as condições monetárias estáveis "por um período de tempo suficientemente prolongado".
O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, que registrou aumento de apenas 0,6% sobre o segundo, foi uma ducha de água fria nas expectativas do BC, que cortou para 1% a expansão esperada para este ano. O número é inferior ao 1,6% projetado pelo Banco Central no relatório anterior, de setembro.
O BC alinhou-se, assim, às estimativas mais otimistas do mercado. Consultorias importantes esperam crescimento inferior a um dígito. Se o número se confirmar, o segundo ano do governo Dilma será marcado pelo pior desempenho econômico desde 1999, quando a economia cresceu apenas 0,3%, excluindo-se a recessão de 0,3% de 2009, quando a crise internacional atingiu em cheio o país.
O texto do relatório não esconde a decepção do BC com o fato de a economia não ter reagido como se esperava ao caminhão de estímulos e incentivos injetados na veia na forma de reduções de impostos e desonerações ou à criação de um cenário mais favorável aos negócios, com o corte de 5,25 pontos nos juros básicos da economia no prazo de 12 meses.
A revisão contagiou também as previsões para 2013. O relatório registra que o BC espera que a economia brasileira cresça 3,3% nos quatro trimestres terminados em setembro de 2013, percentual inferior ao almejado pelo governo, que transferiu para o próximo ano a pretensão de exibir uma expansão de 4,5%.
Para justificar essa recuperação, o Banco Central acredita que as atividades que se mostraram frágeis neste ano, como os investimentos, agropecuária, indústria e serviços, vão reagir, e que o consumo das famílias continuará aquecido. Os investimentos, por exemplo, vão crescer 3,1% nos 12 meses terminados em setembro de 2013, prevê o BC, revertendo a retração de 2,4% em igual período deste ano. A indústria deve crescer 2,8%, com o setor de transformação avançando 1,9%, e deixando para trás o recuo de 0,9% e 3,2%, respectivamente, de igual período deste ano.
Mas o Banco Central parece otimista em excesso com a inflação dos próximos dois anos. Sua expectativa, em um cenário de referência que leva em conta a taxa básica Selic constante em 7,25% e câmbio a R$ 2,05, é que a inflação, medida pelo IPCA, fechará o ano em 5,7%, acima dos 5,2% esperados em setembro. Mas cairá praticamente um ponto, para 4,8% em 2013, e continuará bem comportada pelos padrões atuais, fechando em 4,9% em 2014.
Já no cenário de mercado, que leva em conta a Selic em 7,25% até o fim de 2013, subindo para 8,29% no quarto trimestre de 2014, e dólar a R$ 2,08 e R$ 2,02 nessas datas, as previsões não mudam muito: a inflação fecha este ano nos mesmos 5,7%, cai para 4,8% no próximo e vai a 4,9% no ano seguinte.
Fica claro no relatório que o BC não leva em conta o reajuste da gasolina em 2013, anunciado nesta semana pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que deve alterar significativamente as contas. Não se pode nem dizer que o aumento da gasolina será compensado pela redução dos preços da energia elétrica, forçada pelo governo com a renovação antecipada das concessões, porque isso sim foi levado em conta pelo Banco Central. Segundo o relatório, as projeções consideram, para 2013, a estabilidade dos preços da gasolina, do gás de botijão e das tarifas de telefonia fixa, e o recuo de 14,6% das tarifas de eletricidade – estimativa que considera apenas o impacto direto da redução dos encargos setoriais recentemente anunciada.
O Banco Central também está confiante que os alimentos, que subiram no atacado e agora atingem os índices de varejo, estão perdendo o impulso. Se o IPCA está acumulado em 5,53% no ano até novembro, os alimentos subiram quase o dobro, acumulando alta de 10,08%.
As projeções ainda levam em conta a "moderação salarial", já saudada pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, uma vez que o aumento do salário mínimo vai recuar dos 14% deste ano para cerca de 8% em 2013. Além disso, embora considerem que a política fiscal tornou-se expansionista, as contas do BC admitem "como hipótese de trabalho" um superávit primário de cerca de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB), sem ajustes, em 2013.