Diferença salarial – A diferença de remuneração entre homens e mulheres no mercado de trabalho brasileiro voltou a crescer em 2024, alcançando 20,9%. É o que mostra o Relatório de Transparência e Igualdade Salarial, divulgado nesta segunda-feira (7) pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Os dados foram extraídos do Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS), que abrange mais de 53 mil empresas com cem ou mais funcionários e analisa cerca de 19 milhões de vínculos empregatícios formais.
O relatório revela que, embora a participação feminina no mercado esteja em alta, os salários pagos às mulheres continuam significativamente menores. De acordo com os dados, se as mulheres recebessem os mesmos valores pagos aos homens em funções equivalentes, cerca de R$ 95 bilhões a mais poderiam ter circulado na economia em 2024.
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A desigualdade se acentua ainda mais quando se observam os recortes de raça e ocupação. Enquanto os homens brasileiros recebem, em média, R$ 4.745,53, as mulheres ganham R$ 3.755,01. No caso das mulheres negras, o valor médio cai para R$ 2.864,39 — valor 27,36% inferior ao dos homens negros, cuja média é de R$ 3.647,97.
A distância é ainda maior quando se compara o rendimento das mulheres negras com o de homens não negros, que recebem em média R$ 6.033,15. A diferença entre esses dois grupos chega a 110,63%.
Entenda a diferença salarial entre homens e mulheres por grupos:
A disparidade também aparece de forma marcante em cargos de liderança e qualificação superior. Em funções de direção e gerência, as mulheres recebem 73,2% da remuneração média dos homens. Em profissões de nível superior, essa proporção cai para 68,5%. Já em serviços administrativos, a diferença é menor, mas ainda significativa: mulheres recebem 79,8% dos salários masculinos.
Apesar da desigualdade persistente, o número de mulheres ocupadas vem crescendo. Em 2015, o país contava com 38,8 milhões de mulheres trabalhando. Em 2024, esse número subiu para 44,8 milhões — um aumento de seis milhões em menos de uma década.
Evolução do número de ocupados por sexo no Brasil
Dados do 4º trimestre de 2015 a 2024 (em milhões de pessoas)
A subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho do MTE, Paula Montagner, destaca que, mesmo com esse crescimento, a parcela da massa de rendimentos do trabalho destinada às mulheres continua abaixo do esperado.
“A relativa estabilidade na participação da massa salarial das mulheres se deve às remunerações menores, mesmo com o aumento do número de mulheres no mercado”, explica.
De acordo com o relatório, as mulheres representam atualmente 40,6% da força de trabalho formal do país, o que equivale a 7,7 milhões de empregadas. No entanto, recebem apenas 34,8% da massa total de rendimentos.
Porcentagem da massa salarial das mulheres ocupadas
Dados do 4º trimestre de 2015 a 2024 (em %)
O relatório mostra um crescimento na presença de mulheres negras no mercado formal. Em 2023, eram 3.254.272 trabalhadoras negras; em 2024, esse número saltou para 3.848.760. Também caiu o número de estabelecimentos com no máximo 10% de mulheres negras: de 21.680 em 2023 para 20.452 neste ano.
Além disso, aumentou o número de empresas em que a diferença salarial entre homens e mulheres é inferior a 5%, o que pode indicar uma melhora gradual na equidade salarial.
O que justifica a diferença?
O relatório aponta que 56,1% das empresas analisadas possuem planos de carreira e cargos estruturados. No entanto, diversos fatores ainda contribuem para a desigualdade salarial, como critérios subjetivos e benefícios específicos que impactam de forma distinta homens e mulheres.
Critérios citados pelas empresas para a diferenciação salarial:
* Tempo de experiência na empresa: 76,8%
* Metas de produção: 64,7%
* Flexibilização da jornada: 42,5%
* Apoio à parentalidade de mulheres: 30,7%
* Incentivo à contratação e promoção de mulheres: 39%
* Auxílio-creche: 22%
* Licença maternidade e paternidade estendidas: 21,2%
* Inclusão de grupos específicos:
– Mulheres negras: 24,5%
– Pessoas com deficiência: 21,2%
– LGBTQIA+: 19,5%
– Chefes de família: 19,1%
– Indígenas: 7,5%
– Vítimas de violência: 5,6%
Lei da Igualdade Salarial
A Lei da Igualdade Salarial, sancionada em julho de 2023 pelo presidente Lula, reforça o direito à remuneração igual para homens e mulheres que exercem funções equivalentes. A legislação exige que empresas com mais de 100 empregados adotem medidas efetivas para assegurar a equidade, como transparência nos salários, canais de denúncia, ações de fiscalização, programas de diversidade e apoio à capacitação feminina.
“Cresce a inserção das mulheres no mercado de trabalho ao longo dos anos. Porém, esse crescimento não acompanha os salários das mulheres que exercem as mesmas funções que os homens”, comentou o secretário executivo do Ministério do Trabalho, Francisco Macena.
(Com informações de G1)
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