China – Em julho de 2024, a OpenAI restringiu o acesso da China às suas plataformas de inteligência artificial mais sofisticadas. Diante dessa barreira, desenvolvedores chineses começaram a utilizar alternativas de código aberto, como uma desenvolvida pela também americana Meta, segundo reportagem do The New York Times.
Mas esse cenário começou a mudar com o surgimento de investimentos massivos de empresas como DeepSeek e Alibaba, que passaram a lançar seus próprios sistemas abertos — alguns deles entre os mais avançados do planeta. A proposta do código aberto é permitir que a tecnologia-base seja acessível a outros desenvolvedores, o que acelera a inovação.
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Esse avanço acelerado não ocorreu por acaso. Por mais de uma década, o governo da China tem direcionado grandes volumes de recursos para transformar o país em potência global em IA, replicando a estratégia usada nos setores de energia solar e veículos elétricos.
A aposta é reduzir a dependência de importações e ampliar a capacidade doméstica em tecnologias estratégicas. A iniciativa inclui desde incentivos a áreas fundamentais — como computação de alto desempenho, formação de especialistas e acesso a dados — até a criação de centros de pesquisa em parceria com gigantes como ByteDance e Alibaba.
Investimento estatal impulsiona inovação
Enquanto nos Estados Unidos as big techs lideram os aportes em infraestrutura — casos de Google e Meta —, na China, é o governo quem banca data centers, semicondutores e servidores de alto desempenho. Desde 2014, já foram investidos US$ 100 bilhões apenas no setor de chips.
Pequim também tem incentivado fortemente o crédito. Governos locais e bancos foram instruídos a conceder empréstimos a startups emergentes, e, em abril, foi anunciada uma injeção de US$ 8,5 bilhões em empresas jovens do setor de IA.
A estratégia inclui ainda estímulos regionais. Algumas cidades passaram a competir para atrair startups, oferecendo pacotes de incentivos. Um exemplo é a Dream Town, em Hangzhou — cidade que abriga a Alibaba e a DeepSeek —, considerada um núcleo de talentos em inteligência artificial.
Distritos diferentes da cidade oferecem vantagens para atrair novos negócios. A empresa Deep Principle, por exemplo, recebeu um subsídio de US$ 2,5 milhões ao se mudar para um dos distritos. Segundo seu fundador, Jia, autoridades locais ajudaram até mesmo a encontrar escritórios e moradia para os funcionários.
Desafios pela frente
Entre os desafios que se apresentam, está o de que produtos de IA voltados ao público precisam obedecer às rígidas diretrizes de controle de informação impostas pelo governo chinês. Além disso, a principal fabricante chinesa de semicondutores, SMIC, ainda está atrás da americana Nvidia em qualidade e performance.
Apostar em modelos de código aberto tem sido a forma mais rápida encontrada pelas empresas chinesas para tentar alcançar os rivais do Vale do Silício, que ainda estão alguns passos à frente. Apesar desses entraves, o ecossistema chinês de IA reúne características que podem representar vantagens competitivas.
Enquanto OpenAI e Google mantêm seus sistemas fechados e cobram caro pelo uso, a China aposta em abrir seus modelos, permitindo que desenvolvedores do mundo inteiro criem soluções sobre eles.
Além disso, empresas como a ByteDance — dona do TikTok — possuem imensos volumes de dados sobre o comportamento online dos usuários, o que tem ajudado a treinar modelos com alta precisão e impacto.
A OpenAI chegou a alertar que companhias chinesas como a DeepSeek podem, no futuro próximo, barrar a expansão de rivais americanos em mercados internacionais, o que permitiria à China influenciar os padrões de uso global da inteligência artificial.
(Com informações de Olhar Digital)
(Foto: Reprodução/Freepik/paopano)