O INSS registrou em 2011 mais de 12 mil afastamentos por depressão, transtorno ansioso e estresse. Entre os problemas está a síndrome de Burnout, marcada por desânimo grave, vazio interior e sintomas físicos
Belo Horizonte – O afastamento de trabalhadores por transtornos mentais no Brasil subiu 2% no ano passado, atingindo a marca de 12.337 casos, segundo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). No universo desses problemas, as doenças que mais se destacaram em 2011 foram episódios depressivos, transtornos ansiosos, reações ao estresse grave e transtornos de adaptação. Colaborando com o número crescente desses problemas está a síndrome de Burnout, doença detectada e denominada pela primeira vez em 1974 pelo pesquisador e psicanalista norte-americano Herbert Freudenberger, que a definiu como um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional.
A descoberta deu-se depois de Freudenberger notar oscilações de humor e desinteresse pelo trabalho entre alguns de seus funcionários da área de saúde. Burnout significa queima (burn) e para fora, até o fim (out), ou seja, pode-se traduzir, ao pé da letra, como combustão completa. Em português, a tradução é algo parecido como "perder o fogo" ou "perder a energia".
A prevalência da síndrome de Burnout na população ainda é incerta, mas dados sugerem que ela acometa um número significativo de indivíduos, variando de 4% a 85,7%, conforme a população analisada. Um estudo desenvolvido pela Universidade de Brasília (UnB) em 2010, em uma população de 8 mil professores, indicou a prevalência de 25% da síndrome.
Segundo Gilda Paolieloa, psiquiatra, psicanalista e membro da diretoria da Associação Mineira de Psiquiatria, esse é apenas um novo nome para um problema que sempre existiu. "George Miller Beard, médico americano do século 19, o descreveu como neurastenia, um mal-estar causado pelas exigências da vida moderna. Sigmund Freud o contestou, mostrando que o furo estava mais embaixo: considerava que o mal-estar seria consequência das repressões sexuais impostas pela cultura, uma espécie de preço pago pela humanidade para se tornar civilizada. Chaplin descreve o Burnout de forma brilhante e hilária em Tempos modernos, mostrando as consequências drásticas de uma sociedade massificada pela revolução industrial", explica a especialista.
Gilda, que também é preceptora do curso de residência em psiquiatria do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg), salienta que o quadro, em geral, começa com sinais de cansaço, desânimo em relação a atividades nas quais a pessoa encontrava prazer, chegando à anedonia (perda da capacidade de sentir prazer), ao comprometimento do sono, com sonolência diurna e insônia noturna. "Como a pessoa, em geral, não fica alerta a esses sinais de esgotamento e continua se ‘esticando’, o quadro vai evoluindo com sintomas depressivos: descaso com as necessidades pessoais, isolamento, irritabilidade e sensação de vazio interior que se tenta preencher com mais e mais trabalho automatizado, trazendo como consequência sério comprometimento do desempenho profissional e até paralisação forçada da vida."
Manifestações físicas como dor de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitações, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma e distúrbios gastrintestinais podem surgir e estar associadas à síndrome. Clinicamente, diagnosticar a síndrome de Burnout não é difícil, pois a pessoa sempre relata uma exaustão, levando ao comprometimento de sua atuação profissional e pessoal, chegando, às vezes, a uma aversão ao ambiente de trabalho. "Há técnicas mais específicas para o diagnóstico, como questionários estruturados e outros métodos, como a Escala Likert. Muitas vezes, a própria chefia ou os colegas de trabalho percebem as mudanças na pessoa e a encaminham ao tratamento", cita Gilda.
estágios da
síndrome
de Burnout
» Necessidade de se afirmar
no trabalho
» Dedicação intensificada – com predominância da necessidade de fazer tudo sozinho
» Descaso com as necessidades pessoais, como dormir, comer e sair
» Recalque de conflitos – percebe que algo não vai bem, mas não enfrenta o problema
» Reinterpretação dos valores – isolamento e fuga dos conflitos
» Negação de problemas – os outros são desvalorizados
e considerados incapazes
» Recolhimento
» Mudanças evidentes de comportamento
» Despersonalização
» Vazio interior
» Depressão – marcas de indiferença, desesperança e exaustão
» Colapso físico e mental
o que pode
acentuar
o quadro
» Ambiente profissional nocivo
» Alterações na rotina de trabalho com sobrecarga ao trabalhador
» Papéis e funções conflitantes entre funcionários da empresa
» Ritmo de trabalho penoso, frustração, perda de controle ou autonomia na função laboral
» Falta de retorno ou reconhecimento ao trabalho realizado
» Insegurança econômica
» Falta de competência social
» Reação a uma sobrecarga emocional, ameaças
de mudanças da
jornada de trabalho